sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Reflexão sobre “Família multiproblemática ou multiassistida”




As famílias multiproblemáticas têm uma forma de estar e de se relacionar muito própria, e apresentam uma série de comportamentos problemáticos estruturados, estáveis no tempo e bastante graves, que necessitam de uma intervenção emergente. Estas problemáticas afetam um número indeterminado de elementos. Além destas características, apresentam geralmente, um baixo nível sócio-económico, encontrando-se no limiar da pobreza, são privadas a nível económico e cultural e são socialmente marginalizadas. Os comportamentos problemáticos mais detetados nestas famílias são, por exemplo, a violência, toxicodependência, maus tratos, delinquência, alcoolismo e abandono das crianças.

Em relação à conjugalidade reina a desarmonia. Esta resulta da dificuldade que os cônjuges têm em estabelecer relações estáveis e igualitárias, chamada de simetria relacional, não conseguindo desenvolver relações complementares que lhes permitam encontrar no outro aquilo que lhes falta, sendo incapazes de dar afeto e reconhecimento, e vivem de emoções extremas, como a paixão e o ódio.
A nível da parentalidade, quer a função vinculativa, quer a função socializadora dos pais estão perturbadas. Devido a isto, os seus filhos têm falhas ao nível da segurança básica, e sentem-se “instrumentalizados” e rejeitados pelos pais. Isto é a função interna da família. Na função externa, as crianças têm problemas de socialização que lhes dificulta a dois níveis: são desprotegidas em relação ao meio, e não lhe são transmitidas normas e valores culturais, isto inibe o desenvolvimento da consideração e respeito pela sociedade, o que levará a futuros conflitos com o meio.
As famílias problemáticas são, normalmente, sinalizadas como principal motivo os filhos, por viverem num ambiente disfuncional. Os principais sinalizadores são terceiros, a escola, porque se apercebem de comportamentos violentos, ou até mesmo de falta de aproveitamento, e pelos serviços de ação social, por conhecimento de dificuldades económicas e habitacionais, ou de negligência e maus tratos, por isso, as entidades procedem ao seu encaminhamento para que outras instituições possam intervir.
Estas famílias também podem ser designadas por “multiassistidas”, pois mantêm uma forte relação de dependência com os serviços externos, contudo, aquilo que os técnicos pretendem - o bem-estar e resolução dos problemas da família, na maioria das vezes, não se consegue, pois a presença dos serviços faz com que as famílias se desresponsabilizem pelos seus problemas, diminuindo a competência dos membros da família.
Fazer uma intervenção neste tipo de família é extremamente complicado, pois além de vivenciarem grandes problemas como é a toxicodependência ou a violência, tratam-se de pessoas que têm problemas em se relacionar com as outras, não têm consciência da gravidade dos problemas em que estão envolvidas, e, geralmente, quando executamos uma intervenção, elas não se sentem como atores, colocam-se à margem, como meros espetadores.

Bibliografia: ALARCÃO, M. (2006). (Des)Equilíbrios familiares. Coimbra: Quarteto.

1 comentário:

  1. Olá Lisandra!

    Obrigada por esta publicação, muito esclarecedora!
    São exatamente os fatores que encontramos, geralmente, nas famílias assistidas em meu cotidiano profissional!!!

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